Produção: António da Cunha Telles e Imperial Filmes
Director de fotografia: Acácio de Almeida
Som: João Diogo, José de Carvalho
Sonoplastia: António de Macedo e Hugo Ribeiro
Montagem: António de Macedo
Elenco: Florbela Queiroz, Sinde Filipe, Tomás de Macedo
António de Macedo, em 7 Balas para Selma, cria uma película inteiramente lisboeta. O lado alegre e colorido que observamos na Casa Weinstein de Manuel Vicente, mas também noutras obras deste período, como a Loja Valentim de Carvalho, encontra uma correspondência no mais odiado filme do novo cinema português. Se em Domingo à Tarde dominava o preto e branco e um ambiente frio e opressivo, 7 Balas para Selma explora ostensivamente uma Lisboa ultracolorida e pop, numa crónica de espionagem, tiros e perseguições, em total contraciclo com a ‘narrativa’ que se estava a construir em torno do novo cinema.
A história do filme gira em torno de uma intriga policial em que um par de detectives procura evitar que um grupo de malfeitores se apodere de um aparelho electrónico que lhes permitirá dominar o mundo. 7 Balas para Selma começa por mostrar as ruas da Lisboa antiga, centrando-se maioritariamente na Baixa, numa longa e alucinante sequência de perseguição, que se inicia no Elevador de Santa Justa com um simbólico travelling ascendente - que revela uma vista da Lisboa pombalina - e que termina numa luta num autocarro de dois andares a percorrer a Rua do Ouro. Por razões orçamentais, e ao contrário da intenção inicial do realizador, os cenários são, na sua grande maioria, reais e revelam o fascínio de António de Macedo pela ficção científica. Mais do que a saga James Bond, como foi apontado à época, Macedo destaca como influências, em 7 Balas para Selma, a banda desenhada e os ‘serials’, “fitas que me encantaram na infância e juventude, o Flash Gordon, eram esses modelos de fitas de peripécias.” (António de Macedo) O filme é marcado por personagens unidimensionais, uma heroína duplicada (às vezes loura, outras vezes morena), sequências numa lógica de ‘cliffhanger’ ou pelo uso extrovertido da cor.Um dos exemplos mais emblemáticos dessa vertente pop é uma das cenas musicais do filme, onde Florbela Queirós, a actriz principal, canta numa espécie de vídeo-clip avant-la-lettre, com Macedo a filmar um cenário televisivo e as próprias câmaras, num acto auto-reflexivo de se filmar a ele próprio, em que deixamos de perceber se o que estamos a ver é o filme ou as imagens que as câmaras dispostas no cenário captam. Uma outra cena, das mais longas do filme, mistura perseguições automóveis, intermináveis tiroteios, lutas com retroescavadoras e paisagens desérticas na margem sul do Tejo, num cenário que utiliza plasticamente a Ponte 25 de Abril, ainda em construção.