Produção - António da Cunha Telles/Produções Cunha Telles
Diálogos - Fernando Lopes, Baptista-Bastos e Manuel Ruas
Assist. Realização - Fernando Matos Silva
Dir. Fotografia - Augusto Cabrita
Imagem - Elso Roque
Montagem - Manuel Ruas
Dir. Som - Heliodoro Pires
Sonoplastia - Alexandre Gonçalves
Música - Manuel Jorge Veloso, Justiniano Canelhas, Conjunto Hot Club Portugal
Rodagem - 1964/Lisboa
Estreia - 19 de Novembro 1964/Cinema Aviz (Lisboa)
Lab. Imagem - Ulyssea Filme
Distribuição - Doperfilme
Festivais - Festival de Pesaro 1964 (Itália)
Festival de Salso-Porretta 1964 (Itália)
Prémio do SNI à Melhor Fotografia (Augusto Cabrita)
Prémio da Casa da Imprensa/Cinema 1964
Intérpretes - Belarmino Fragoso, Albano Martins, Jean-Pierre Gebler, Bernardo Moreira, Maria Teresa Noronha Bastos, Júlia Buissel, Maria Amélia e Ana Maria Saulo (mulher e filha de Belarmino)
Em Novembro de 1964 estreou a primeira longa-metragem de Fernando Lopes, Belarmino, um exemplo do novo cinema português da capacidade de observar o real e de o transformar através de uma vontade de ficção. No filme, há também uma redescoberta da cidade existente, de deitar sobre ela um novo olhar, de lhe encontrar novas hipóteses de sociabilidade, de mostrar que era possível ser livre numa cidade oprimida. Se em Os Verdes Anos estava implícita uma crítica à cidade moderna, pela inadaptação do personagem principal aos novos espaços construídos, em Belarmino está subentendido o elogio da cidade antiga, da riqueza do seu centro enquanto lugar de encontro e de diferentes possibilidades de vida.
Fernando Lopes soube, no entanto, ultrapassar o assunto do filme: a vida lisboeta de um boxeur falhado. O olhar que pousou em Belarmino passa para lá deste e revela toda uma realidade social. É a vadiagem lisboeta, irresponsável e ligeira, o que vemos em Belarmino, quando este vagueia pela Barros Queirós, pela Pastelaria Suíça, pela Avenida dos Restauradores e vai até à Porta do Éden olhar para as raparigas da alta e dar palmadas a outros rapazes que por ali matam o tempo. Apesar dessa ligeireza dos movimentos do personagem principal, sente-se em todo o filme um cerco permanente, desde a cena de abertura, com as redes do ginásio onde treinam os boxeurs; ao bloqueio encenado da equipa e material de filmagem na entrevista a Belarmino; ou as imagens finais do pugilista nas ruas da cidade, desfocando as grades de uma varanda que o aprisionam no plano. “Por causa da Censura, as mensagens que queríamos transmitir eram cifradas, o que tornava as coisas muito criativas. As grades do último plano do Belarmino significavam que estávamos todos presos. Lisboa, em 1963/64, era uma cidade quase fantasma, nós sentíamos o peso do salazarismo sobre nós. Era como se vivêssemos numa cadeia, o que contrastava imenso com a luz e o espaço de Lisboa, particularmente o espaço da Baixa, aberto com a reconstrução depois do terramoto.” (Fernando Lopes) “Belarmino é o filme de um homem livre, que começa e acaba do lado de fora das grades de uma prisão simbólica. Dentro dessa gaiola, que é uma certa Lisboa”, vive Belarmino e o filme “é a história de um prisioneiro que se julga livre, contada por um homem que tem consciência de que certos horizontes risonhos não são mais do que um muro de vergonha." (Gérard Castelo Lopes)