"A concepção desta casa, situada num descampado que, no início do século XX, integrava a cooperativa anarquista “Clarão”, visou construir, com paredes rebocadas de pedra e tijolo, pinho em tectos e tijoleira no chão, o abrigo de um poeta, sem excessos dramáticos ou equívoca identificação com o meio rural.
Esta obra reflecte ligação com o dono da casa e um olhar sobre a envolvente. Em regra, quando os gostos do arquitecto e do cliente divergem, a tentativa de os conciliar dita obras mancas; mas, por outro lado, o dono de uma casa feita apenas ao gosto do arquitecto dificilmente a sente como sua. Com identidade estética a obra será feliz, o arquitecto sente-se realizado, tendo o dono da obra um abrigo adaptado. A espontaneidade que esta casa possua provirá de uma identidade de gostos, ideias e sentimentos.
O terreno, desabrigado, virado para a Serra de Sintra e para uma nesga de mar, ditou o desdobramento da casa em volumes e pátios, valorizando um local monótono e suprindo a falta de vivência do aglomerado próximo.A diversidade expressiva revela uma primeira obra e a formação do autor, com visões e sonhos de aprendiz em escolas e ateliers do Porto e da Finlândia, onde conviveu com a obra de Aalto, e o contacto com a arquitectura popular do Algarve, onde então trabalhava.No interior, predominam áreas de estar, introvertidas e extrovertidas, a área das refeições (frontal à Serra), e ainda o recanto do escritor, embora isolado no centro da casa. No andar elevado, situam-se dois quartos."