Elenco: Raul Solnado, Glicínia Quartin, Luís Cerqueira, Costa Ferreira, Rui Mendes, Fernanda Alves, Olga da Fonseca, Esperança Monteiro, Adelaide João, Nicolau Breyner, Telmo Rendeiro, César Augusto, Clara Rocha, Benjamim Falcão, Julieta Cardoso, Pedro Boaventura, Luís Alberto, Marília Fernandes, Bento José, José Baleia, Jorge Rodrigues, Lurdes Lopes, Carlos Grifo e o povo de Lisboa.
Dom Roberto, filme de Ernesto de Sousa rodado em 1961 e estreado em sala em Maio de 1962, é considerado a primeira tentativa de criação de um novo cinema português. O filme foi produzido pela Cooperativa do Espectador, fundada propositadamente para o efeito e directamente ligada ao movimento cineclubista de que Ernesto de Sousa era um dos principais dinamizadores, num processo de financiamento em que os espectadores compraram antecipadamente os bilhetes, aquilo a que hoje se chamaria crowdfunding. Sem qualquer apoio estatal, os produtores recusaram igualmente uma proposta de Juan António Bardem para financiar o filme. “Fita-bandeira, feita com pequenas economias e construída na aventura de um novo cinema, Dom Roberto não podia salvar, ele só, o cinema português, mas dava o primeiro passo.” (Luis de Pina) “Na sua fragilidade, no seu isolacionismo, nas suas condições de produção, nas vagas heranças de que se reclama, na ruptura que pratica em relação ao estado das coisas no cinema português desse início dos anos sessenta, por tudo isto se não pode negar a Dom Roberto o carácter de áugure do que viria a seguir, de ‘João Baptista’ do cinema novo, que iria irromper com as dimensões de movimento cultural de uma geração.” (Jorge Leitão Ramos)
Dom Roberto não recolheu o aplauso unânime da crítica. Foi elogiado, por um lado, pelo tom lírico com que trata a relação do par amoroso e pela vontade de mudança que se percebe na intenção de filmar uma Lisboa desconhecida, “uma árvore estranha, uma ponta de rua, uma nesga de rio, que testemunha uma capacidade documentarística de Ernesto de Sousa que, se aqui resulta possivelmente gratuita, é sempre, de qualquer forma, saudavelmente criteriosa. Nem o folclorismo alienante e ‘popularucho’ dos nossos filmes de bairro, nem a inversa tentação de um naturalismo cinicamente cruel.” (Orlando de Carvalho) Mas o filme foi, por outro lado, acusado de possuir muitas deficiências técnicas e uma certa imaturidade criativa. “Dom Roberto é o mais desgostante dos malogros. Porque o é, em si, e pelo que arrasta consigo. Uma publicidade insistente associou-o de tal modo ao cineclubismo que a mediocridade do filme pode ser lançada na face do movimento. Se Dom Roberto é um filme bem intencionado, se estão lá os vasos com flores melancólicas e solitárias e os finais de Charles Chaplin, se o velho carro feito de sucata pertence à Cinecittà e os ‘homens de negro’ são os mesmos de O Milagre de Milão, se o povo de Lisboa aparece aqui e ali, um pouco mais que nas películas ribatejanas de Henrique Campos, isso não o liberta da sua mediocridade, nem risca a falta de imaginação, de ritmo, de unidade, de clareza e eficiência.” (Artur Portela Filho)