Assistente de realização: José Carlos de Andrade e Zeni d’Ovar
Produção: António da Cunha Telles
Director de fotografia: Elso Roque
Assistente de imagem: Acácio de Almeida
Iluminação: Jorge Pardal
Director de som: João Diogo
Operador de som: José de Carvalho
Música: Quinteto Académico
Sonoplastia: António de Macedo e Hugo Ribeiro
Montagem: António de Macedo
Elenco: Isabel de Castro (Clarisse), Ruy de Carvalho (Jorge), Isabel Ruth (Lúcia), Alexandre Pessoa (preso), Constança Navarro (velha do poço), Júlio Cleto (preso), Miguel Franco (médico)
Cremilde Gil (enfermeira), Fernanda Borsatti (Maria Armanda), Serge Farkas (impostor), Frederico Berna (padre), Zita Duarte, Rui de Matos, Grece de Castro, Osvaldo Medeiros, Edith Sarah, Esmeralda Farkas, Fernanda de Figueiredo, Judite Dorsini, Manuela Bonito, Matos Ideias.
Domingo à Tarde, a primeira longa-metragem de António de Macedo e a terceira experiência da nova vaga de filmes produzidos por António da Cunha Telles, “é um dos filmes fundadores daquilo com que sonhávamos nesses idos anos sessenta: um novo cinema português.” (Fernando Lopes) O filme conta a história da relação de um médico com uma paciente vítima de doença terminal. Jorge (Ruy de Carvalho) dirige um departamento hospitalar cuja especialidade o leva a acolher quase sempre casos de doentes condenados e onde trabalha com uma assistente, Lúcia (Isabel Ruth). Com ela estabelece uma cumplicidade face à realidade quotidiana da morte que propicia uma atracção afectiva que as próprias circunstâncias suspendem e adiam. Um dia, surge na consulta uma doente, Clarisse (Isabel de Castro), a quem é diagnosticada uma leucemia e os atritos dos primeiros encontros transformam-se, inevitavelmente, numa desesperada história de amor, que termina com a morte de Clarisse. Jorge prometera-lhe que na tarde do Domingo seguinte iriam passear.
Apesar de Macedo recusar a filiação numa mitologia lisboeta, Domingo à Tarde não deixa de ser fundamentalmente urbano, o que se percebe pelos lugares onde foram filmadas as principais cenas, mesmo que a cidade, enquanto lugar de acção, permaneça ausente. Uma das excepções a esta opção do realizador é o plano inicial do filme, que mostra as traseiras daquilo que depois percebemos ser um hospital, numa periferia onde passam linhas de comboio que voltam a marcar presença ao longo do filme, ainda que por vezes apenas por sugestão transmitida pelo som. A cidade reaparece numa das mais emblemáticas cenas do filme, em que Jorge descobre Clarisse numa boîte na parte antiga de Lisboa, abandonada ao prazer nocturno de encontros furtuitos, em que os corpos de desconhecidos se aproximam sensualmente, numa experiência só possível por saber que a morte se acercava. É a representação da cidade nocturna enquanto lugar de liberdade, o único onde se admitia um relaxamento do quotidiano cerceamento dos costumes. A lânguida música do Quinteto Académico acentua esse reservado erotismo, numa sequência que em tudo lembra a cena que Fernando Lopes filmou no HotClub em Belarmino. Como em todos os filmes portugueses deste período, associada a esses lugares de liberdade, quase sempre localizados na cidade antiga, estava a música contemporânea, principalmente o jazz.