O Hotel do Mar em Sesimbra, da autoria de Francisco Conceição Silva, abriu ao público em 1963 e resultou de uma encomenda de João Alcobia, dono da prestigiada empresa de mobiliário Jalco, que em sociedade com os irmãos José e Manuel Gonçalves, na época proprietários do Diário de Notícias, decidiu expandir a sua área de negócios. A encomenda do projecto resultou da anterior colaboração de Conceição Silva com a Jalco, cuja loja ocupava um edifício de cinco andares na Rua Ivens, em Lisboa, para onde o arquitecto primeiro organiza, em 1951, uma secção de mobiliário moderno importado dos Estados Unidos da América e da Europa e, no ano seguinte, realiza uma exposição de mobiliário da sua autoria.O Hotel do Mar representa o início da descoberta do sul do país que vai marcar os anos sessenta. A decisão do investimento no hotel deve muito ao anúncio da construção de uma nova ponte sobre o Tejo, que se viria a denominar Ponte Salazar, hoje Ponte 25 de Abril, cujo contrato é assinado em 1957 e se inaugura quase uma década depois, em 1966. É nas potencialidades dessa abertura da nova via para sul que investe a Casa Jalco, construindo em Sesimbra, até então uma pacata vila piscatória, um hotel de média dimensão vocacionado para alojar a alta burguesia lisboeta.
Conceição Silva experimentou no Hotel de Sesimbra a possibilidade de construir uma obra total, garantindo não só o desenho do edifício mas também do mobiliário e da decoração. Apesar disso, este projecto está ainda longe daquilo que viria a ser a sua forma de encarar a profissão nos anos seguintes, assumindo o papel de ‘arquitecto administrador’ que chefia um atelier de arquitectura que é simultaneamente uma empresa de construção civil e de promoção imobiliária, aceitando encomendas de tipo ‘chave na mão’ para grandes grupos económicos, maioritariamente estrangeiros. É a partir desse momento que Conceição Silva se afasta definitivamente da figura do arquitecto enquanto ‘autor’, o que faz com que o olhar sobre o Hotel do Mar seja hoje inevitavelmente toldado por um injusto preconceito. Não deixa, no entanto, de ser irónico que o Hotel do Mar - um dos edifícios que se associa ao início do processo de destruição da paisagem ao serviço do turismo - quando analisado na sua primeira fase de construção, revele exactamente o contrário: é executado com poucos meios, tem como intenção mitigar o impacto na paisagem e absorve exemplarmente, quer as recomendações do Inquérito à Arquitectura Popular, quer as influências da arquitectura internacional.
Luis Urbano in Entre Dois Mundos. Arquitectura e Cinema em Portugal, 1959-1974