Produção: Animatógrafo, Centro Português de Cinema
Diálogos - Gizela da Conceição e António da Cunha Telles
Fotografia - Acácio de Almeida
Cenografia - João Luís
Som - João Neves
Montagem - António da Cunha Telles, Gizela da Conceição, Noémia Delgado e António Louro
Intérpretes: Manuel Madeira, Teresa Mota, António Modesto Navarro, José Vaz Pereira, Maria Otília, Lia Gama, Manuela Maria, Henrique Espírito Santo, João Franco, Adelaide João
O segundo filme de Cunha Telles como realizador, Meus Amigos, estreado um mês antes do 25 de Abril de 1974, foi financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, através do Centro Português de Cinema, cooperativa a que Cunha Telles adere apenas para poder continuar a realizar. O filme conta a história de alguns amigos que participaram na primeira revolta de estudantes, em 1962, e que se reencontram passados dez anos para fazer um balanço. Eduardo, que se tinha casado com um excelente partido, separa-se da mulher para reencontrar a liberdade e prosseguir a sua acção ordenada no sistema. José Manuel abandonou os estudos, tendo emigrado como tantos outros, e descobre que trabalhar no interior do sistema é, afinal, prolongar a sua sobrevivência, preferindo manter-se à margem, vivendo de expedientes, de ofertas de amigos, de desenhos para os turistas, de traduções. A atenção dada às personagens femininas, uma constante na obra de Cunha Telles, revela mulheres que falam abertamente da sua vida sexual, da perda da virgindade e dos seus parceiros amorosos, num reflexo da mudança de mentalidades que contribuiu para tornar possível, ou até inevitável, a Revolução que aconteceria pouco depois da estreia do filme. Cunha Telles não pretendia seguir a evolução profissional de cada um dos personagens, mas antes verificar que as ilusões de 62 tinham já desaparecido. E a própria arquitectura representada no filme é exemplo desse beco sem saída. Os actores movem-se quase sempre em casas isoladas por paredes ou por janelas fechadas. À falta de liberdade generalizada na sociedade, corresponde uma falta de liberdade espacial no filme, como se os personagens tivessem assumido a sua condição de presidiários, numa espécie de versão cinematográfica da prisão domiciliária.