Realização, Argumento, Sequência e Planificação – Paulo Rocha
Produção – António da Cunha Telles/Produções Cunha Telles
Assistente Geral de Produção – Zeni D’Ovar e Manuel Bento
Diálogos – António Reis
Assistentes de Realização – António Campos
Fotografia – Elso Roque
Som – Alfredo Tropa
Assistente de imagem – Carlos Manuel Silva
Montagem – Margarette Mangs e Paulo Rocha
Assitente de Montagem – Noémia Delgado
Música – Carlos Paredes
Decoração e Guarda-roupa – Zeni D’Ovar
Prémios – Prémio Casa da Imprensa para Melhor Filme; 2.º Prémio João Ortigão Ramos da União de Grémios dos Espectáculos
Intérpretes – Geraldo D’el Rey (Adelino), Isabel Ruth (Albertina), Maria Barroso (Júlia), João Guedes (Inácio), Constança Navarro (Velha), Mário Santos (Velho), Nunes Vidal (Raimundo), António Coelho (Médico), Edwiges Dias Simões (Pescadeira), Gesta (Patrão da Companhia), João Brás, Soares Couto, Ilídio Baptista, António Pinho, Pescadores e Povo do Furadouro.
Sinopse:
Furadouro, próximo de Ovar. Enquanto Adelino cumpria o serviço militar em África sem dar notícias, o seu irmão Raimundo, como ele pescador, casou-se com Júlia, ex-namorada de Adelino. A luta pela sobrevivência, contra o mar e a tradição, marca esse conflito amoroso e a paixão renasce para Adelino, quando é atraído pela natureza selvagem da jovem Albertina.
Crítica:
“Mudar de Vida”, de Paulo Rocha, retrata as angústias de um pescador regressado da Guerra Colonial (Gerado Del Rey, actor de Glauber Rocha), que se deixou ficar por África mais tempo do que a sua missão exigia, e que descobre que as pessoas e o lugar que abandonara, tal como ele próprio, já não são os mesmos. A sua namorada casara-se com o irmão e estava agora doente, a aldeia de pescadores onde vivia, o Furadouro, estava perigosamente ameaçada pelo mar.
Obra simétrica a Os Verdes Anos, o que neste era iminentemente urbano é aqui intransigentemente rural. O que em Os Verdes Anos era espontâneo, experimental, intuição de estar a inaugurar um novo modo de fazer cinema em Portugal, é, em Mudar de Vida, cerebral, sofisticado, convicto - na forma de filmar, nos movimentos de câmara, na fotografia, na montagem, nos diálogos e na própria mise-en-scéne. A crítica ao ambiente sem saída que se sentia em Os Verdes Anos, que era, apesar de tudo, representado com uma certa amenidade, é, em Mudar de Vida, radicalmente caracterizado através de uma vida duríssima, desconstruindo o mito salazarista do encanto da vida fora das cidades. Aqui, tal como na Lisboa dos anos sessenta, não há também outra saída senão a fuga.
Maria Barroso é admirável no retrato de Júlia, a mulher dividida entre o amor a Adelino (Del Rey), mas a quem o destino e a decência faz continuar com o homem que casou. Essa vida dura só é quebrada na fordiana cena da festa da aldeia, filmada certamente a partir de cenas reais, na sequência da tendência inaugurada por Oliveira de associar ficção e real, em que por momentos as dificuldades são esquecidas, e a alegria se sente no ar, ainda que os rostos não se libertem totalmente das agruras daqueles tempos.
A personagem de Isabel Ruth introduz no filme a hipótese de fuga, a mulher que procura mais do que aquilo que o destino lhe destina, quebrando as regras, mesmo que para isso seja preciso assaltar a caixa de esmolas de uma capela perdida no meio da paisagem. A sua profissão de empregada fabril é criticada por ser demasiado fácil, como se o único modo de vida naquele lugar estivesse inelutavelmente ligada à faina pesqueira.
A cena do conflito amoroso entre Maria Barroso e Gerardo Del Rey é filmada numa casa semi-destruída, com Paulo Rocha a mostrar o abismo dessa relação num espaço que literalmente se desfaz no mar. O mesmo mar que leva as casas mas devolve os móveis.