Produção - António da Cunha Telles/Produções Cunha Telles
Argumento - Paulo Rocha
Adaptação e Diálogos - Nuno Bragança
Assistentes de Realização - Fernando Matos Silva, António Vilela e Olavo Rasquinho
Fotografia - Luc Mirot
Operador de imagem - Elso Roque e Eduardo Ferros (assistente)
Montagem - Margarette Mangs
Assistentes de Montagem - Emília de Oliveira, Isabel Marques e Noémia Delgado
Som - Heliodoro Pires
Música - Carlos Paredes
Guarda-roupa - Rafael Calado e Alda Cruz
Rodagem - Abril e Maio de 1963/ Lisboa - Alvalade e Benfica
Estreia - 29 de Novembro de 1963, Cinema São Luiz (Lisboa)
Distribuição - Vitória Filme
Festivais - Prémio Vela de Prata/Opera Prima - Festival de Locarno (1964); Prémio Cabeza de Palenque - Festival de Acapulco (1964); Menção Honrosa - Festival de Valladolid (1965)
Intérpretes - Isabel Ruth (Ilda), Rui Gomes (Júlio), Paulo Renato (Afonso), Cândida Lacerda (Patroa), Carlos José Teixeira (Patrão), Irene Dyne (Prima), Ruy Furtado (Raul), Harry Weeland (Inglês), Alberto Ghira, Órcar Acúrcio, José Victor, Rui Castelar, Carlos Alberto dos Santos, Carlos Canduzeiro, Manuel de Oliveira, Raul Dibini, Maria Helena, Joaquim António Mendes, Victor Dias, Carlos Jesus Afonso, Carlos Rodrigues, Elisa Maria, Henriqueta Domingues, Manuel Bento, Manuel Reis e Olga Campos.
Sinopse:
Nos Verdes Anos, por detrás da perturbante história de amor entre dois jovens adultos, conta-se a história de dois campónios recém-chegados à cidade. Somos guiados através dos olhos de Júlio que vem para Lisboa viver com o tio e trabalhar como sapateiro. No dia da chegada, um incidente leva-o a conhecer Ilda, jovem da mesma idade, empregada doméstica numa casa próxima da oficina onde Júlio trabalha. Júlio sente-se num ambiente estranho e hostil, não se conseguindo enquadrar na cidade, procurando conforto na ideia segura do casamento, que Ilda recusa. Embora procure encaixar-se na vida da capital é incapaz de lidar com a rejeição da namorada, acabando por matá-la. Paulo Rocha filma as paisagens desoladas de uma Lisboa em construção, entre dois espaços aparentemente contraditórios (já que ambos são periferias): uma urbana, os novos bairros nas Avenidas Novas, onde trabalham os dois personagens principais, e uma rural, onde Júlio vive com o tio, lugar já ameaçado pelo crescimento da cidade. Rocha estabelece também uma dicotomia entre uma Lisboa contemporânea, diurna, onde a maior parte da acção decorre; e uma Lisboa antiga, nocturna, onde alguma liberdade é permitida.
Crítica:
Nos Verdes Anos, “o conflito mais secreto do filme é o da corrupção da cidade de Lisboa que Paulo Rocha filma tão bem, sempre discreta mas, justamente, mostrando esse bairro de Alvalade que vai empurrando os campos para trás”. A dicotomia entre rural e urbano é representada logo nos primeiros planos do filme, numa panorâmica de uma paisagem campestre com Lisboa em fundo: quando terminam os títulos iniciais a câmara completa um movimento vertical mostrando primeiro um terreno arado, com alfaias agrícolas, acabando por revelar a presença próxima de modernos edifícios de habitação. Esta introdução é representativa do conflito mostrado no filme: a incapacidade dum homem do campo em se adaptar à sua nova vida na cidade, uma inadequação que marcou muitos outros portugueses que migraram para as grandes cidades em busca de melhores condições de vida. A cidade que Rocha mostra, ao contrário de todos os filmes portugueses que o antecederam, é uma Lisboa contemporânea, dos túneis do Metro à Cidade Universitária, dos edifícios de habitação colectiva modernistas aos cafés e lojas daquele tempo, como a famosa “Loja Rampa” projectada por Conceição Silva no Chiado. Um dos personagens do filme, o tio de Júlio que trabalha na construção civil, numa das cenas mais arquitectónicas do filme, mostra aos dois protagonistas a Lisboa que ajudou a construir, passando por algumas das mais emblemáticas obras da arquitectura lisboeta dos anos cinquenta. Foca-se não só na arquitectura, mas também nas artes aplicadas, as esculturas e painéis de azulejos que marcavam a arquitectura pós-congresso de 48, que postulou a ligação da arquitectura com as outras artes. Há também referência à especulação imobiliária que naquele período começou a tomar conta do desenvolvimento das cidades. Afonso refere a certa altura que se “gasta mais dinheiro no dormir que no comer”, e daí preferir continuar a viver na periferia rural onde a cidade, apesar de tudo, estava prestes a chegar. Há um contraste entre duas formas de ver a cidade. Uma Lisboa contemporânea, diurna, onde a maior parte da acção decorre; e uma Lisboa antiga, nocturna, onde a viragem dramática na personagem de Júlio ocorre, no Texas Bar, que Wenders não se esquecerá de filmar mais tarde, quando realiza Lisbon Story.