Realização, Montagem, Planificação e Sequência – Artur Ramos
Produção – Manuel Queirós/Cinedex; César Guerra Leal
Assistente Geral de Produção – Moreira da Silva
Argumento a partir da obra homónima de Luiz Francisco Rebello
Adaptação – Luiz Francisco Rebello e Artur Ramos
Diálogos – Luís de Sttau Monteiro e Alexandre O’Neill
Assistentes de Realização – Américo Patela, Gérard Castello Lopes e Mário Cardoso
Fotografia – Josão Moreira
Operador de imagem – Manuel Marques e Mário Pereira (assistente)
Assistentes de Montagem – Emília de Oliveira, Isabel Marques e Noémia Delgado
Som – Augusto Simões Lopes
Música – Filipe de Solms
Decoração – Sena da Silva e Carlos Calvet
Guarda-roupa – Rosas & Teixeira
Intérpretes – Lúcia Amram (Elsa), Paulo Renato (Eduardo), Ruy de Carvalho (Francisco), Leónia Mendes (Rosa, a Mulher de Francisco), Hugo Casaes (Francisco Azevedo Lopes), Morais e Castro (Rodrigo), Júlia Buissel (Odete), Gérard Castello Lopes (Manuel, o Médico), Helena Calmon (Isabel), Maria João (Bé), António Faria (Zé Carlos), Fernanda de Sousa (Mãe de Elsa), Carlos Fernando (Vítor), Carlos Gonçalves e António Sarmento (Chauffers), Luís Tito (Homem do Bar) e Seabra Cardoso (Necas).
Pássaros de Asas Cortadas, de Artur Ramos, estreado em Maio de 1963, conta a história de Elsa (Lucia Amram), filha de uma família da alta burguesia lisboeta do final dos anos cinquenta, que se debate com o ambiente dissimulado e moralmente corrupto a que pertence. No filme, a ordem da família é posta em causa através do cruzamento de três histórias: a da família pobre de um motorista particular, a dos seus patrões endinheirados e a de um casal amigo destes. Numa noite de Verão, o filho do patrão tenta uma aproximação à filha do motorista, que trabalha na tabacaria do Casino Estoril, convencendo-a a aceitar uma boleia para casa, mas na viagem o rapaz pára o carro no Guincho e assedia a rapariga, que cai fatalmente numa falésia ao tentar fugir. Elsa, irmã do agressor, não tolera que a causa do mortal acidente seja abafada, assistindo perplexa, mas impotente, à exploração de Francisco, o motorista, que a troco do silêncio aceita algumas benesses que garantirão o futuro da sua família. Paulo Renato, que mais tarde será o tio de Júlio em Os Verdes Anos, interpreta aqui o papel de amigo da família burguesa, um arquitecto que mantém um relacionamento extraconjugal com Elsa que, mesmo fisicamente, lembra as personagens femininas do cinema de Antonioni. O filme aborda a questão moral da mentira, as conveniências de classe, a necessidade de manter as aparências num mundo em acentuada decadência. Nas palavras do realizador, o filme é “certamente o que vai mais longe na denúncia das maleitas da sociedade portuguesa submetida ao fascismo.”
Pássaros de Asas Cortadas foi muito influenciado por Morte de um Ciclista (1955) de Juan António Bardem, quer no retrato de uma burguesia moralmente em crise e em causa, quer na forma como são filmados os espaços por onde essa mesma burguesia circula. O centro da acção são maioritariamente espaços interiores, quase sempre filmados em estúdio, mas a cidade, mais no filme de Bardem que no de Artur Ramos, ganha também protagonismo, particularmente na neo-realista cena que mostra um bairro de habitação popular.