Elenco - José Cunha (Artur), Marta Leitão (Joana), Nuno Martins (Rui), Ana Maria Lucas (Marta), António Machado Ribeiro (António Pedro), António Rama (namorado de Joana), Albano Silva Pereira (Albano), Carmizé (Fété), Nuno Pereira (Nuno), Carlos Ferreiro (Carlos), Patrícia Vasconcelos.
Sinopse:
Artur é um jovem da província que, ao regressar a Lisboa após ter passado os meses de Verão na sua terra natal, aceita a boleia de Rui, um empresário de reputação duvidosa que o apresenta ao mundo da rádio e da publicidade. Durante a viagem conhece Joana que, tal como ele, nasceu na província mas sonha com a cidade. Através de uma sucessão de episódios que testam constantemente a sua capacidade de sobrevivência, Artur vê-se preso a uma vida sem esperança, de futuro incerto e paixões obsessivas, em que a única saída parece ser a emigração.
Crítica:
Perdido por Cem é a primeira longa-metragem de António-Pedro Vasconcelos, que assistiu como crítico ou autor de curtas-metragens ao nascimento de um novo cinema que prometia mudar o panorama português. Talvez por isso, o filme apresente um enorme entusiasmo (por vezes excessivo) em explorar as temáticas lançadas pela nova geração, as novas técnicas (foi o primeiro filme português com som directo) e a estética da nouvelle vague francesa. Este é, aliás, o filme português que mais se aproxima de Godard e Truffaut.
Artur, um jovem vindo da província, não encontra o seu lugar na cidade, espaço de vício e perdição, procurando conforto num amor obsessivo de final trágico, tal como acontece em Os Verdes Anos. Porém, a personagem principal de Perdido por Cem parece mover-se com maior destreza, apesar dos obstáculos que vai sucessivamente enfrentando, e o argumento não apresenta aqui a mesma inocência do filme de Paulo Rocha. Para isso contribui o facto de a história ser narrada na primeira pessoa, algum tempo (não se sabe exactamente quanto) depois de a acção ter decorrido e, por isso, com um tom resignado e descrente que nos revela a leitura exacta que o filme deve ter. Esse desencanto é também o reflexo da geração de António-Pedro Vasconcelos e que faz de Artur um personagem neutro, que não é nem a crítica lúcida nem a revolta agressiva.
Como mais tarde Matos Silva viria a fazer (e bem) em O Mal Amado, há uma tentativa de explorar os personagens-tipo, embora aqui resulte num desequilíbrio da importância dada a cada um deles: alguns personagens secundários ganham demasiado protagonismo enquanto outros, que deveriam ser principais, aparecem pontualmente, sem grande destaque – Rui é quase a personagem central do início do filme, para depois desaparecer de forma abrupta e incompreensível, e Joana surge fugazmente no início, reaparecendo já perto do fim, quando quase a havíamos esquecido.
Apesar da discutível montagem– os diálogos do quotidiano, ao jeito de Godard, prolongam-se por vezes de forma exagerada, aumentando desnecessariamente a duração total do filme -, Perdido por Cem é um dos filmes obrigatórios do Cinema Novo, uma crónica pertinente de uma Lisboa sem esperança, em que a câmara confessional, inquieta e triste, é a personificação de uma geração.