Realização, Produção, Fotografia e Montagem: Manoel de Oliveira
Som: Joaquim Amaral e Alfredo Pimentel
Em 1955, Manoel de Oliveira viajou até à Alemanha, onde estudou o uso da cor no cinema e adquiriu uma máquina de filmar com que realizará O Pintor e a Cidade, que termina no ano seguinte. Nos anos cinquenta, Manoel de Oliveira “queria ser um cineasta inteiramente independente, comprava material e numa parte da casa que tinha herdado tinha instalado um estúdio cinematográfico. Trabalhava em muitos filmes ao mesmo tempo e, por isso, esse processo prolongou-se por cinco ou seis anos. No fim, tinha quatro filmes: O Pintor e a Cidade, O Pão, O Acto da Primavera e A Caça.”(Paulo Rocha)O Pintor e a Cidade é um documentário sobre o Porto, a partir do olhar de um pintor, que não deixa de chamar a atenção para alguns problemas urbanos, como por exemplo “na opressiva sequência do Barredo (autêntica descida aos infernos)” (Henrique Alves Costa) ou na proposta de transformação da cidade, através de uma sequência de aguarelas de António Cruz nos planos finais do filme. Nessa proposta, modernos edifícios sobre pilotis ocupam toda frente ribeirinha da cidade antiga, alterando radicalmente a fisionomia do perfil do Porto, fazendo lembrar o plano de Le Corbusier para o Rio de Janeiro. A humanização da cidade, que Nuno Portas defenderá alguns anos mais tarde, era já evidente na crítica que escreveu sobre O Pintor e a Cidade, depois de ser um dos primeiros a assistir à sua projecção: “Na montagem sonora alterna-se música coral religiosa e profana com ruídos da cidade e as imagens constituem uma evocação do Porto à medida que os olhos de um pintor lhe vão descobrindo a riqueza. A cidade do pintor é ainda a mesma de Douro Faina Fluvial: uma cidade dos homens. É certo que revelada de modo diferente. No Douro era visto em preto e branco e agora tivemos na frente uma sinfonia de cor; no Douro era apenas o rio o centro da acção e agora é todo o Porto: o monumental e o proibido, o do Barredo e o da arquitectura moderna, o religioso e o profano, o do trabalho e o do descanso, o da alegria e o da morte. Manoel de Oliveira é um homem para quem a poesia é um ritmo arrancado às cores, ao mundo, à cidade. E o pintor é, na realidade, ele, um homem de olhos abertos para a realidade, sôfrego de obter a harmonia dos seus ambientes, sentindo a existência dos seus habitantes através dos pincéis, ou seja, as objectivas de uma câmara.” (Nuno Portas)