“Todos os anos, nas marés vivas, o mar leva o que não é essencial. Naquele sítio, um maciço rochoso interrompe as três linhas paralelas: encontro do mar e do céu, da praia e do mar, longo muro de suporte da via marginal.
Alguém pensou em proteger uma depressão desse maciço, utilizando-a como piscina das marés. Mas o Atlântico não é Mediterrâneo, nem é simples construir uma piscina onde poucas se fazem: tratamento da água, captação difícil, regulamentos exigentes, aprovação dependente de uma série de organismos. “O melhor é chamar um arquitecto”.
Nada mudou profundamente. O edifício dos balneários está ancorado como um barco no muro da marginal. Dali não sai. Alguns muros em betão sustentam a cobertura em riga e cobre e apoiam os percursos de acesso à piscina. Esses percursos existiam (em terreno difícil, a gente sabe escolher o sítio onde por os pés), a piscina existia, os muros são paralelos ao muro de granito da avenida, do qual apenas se destacam. Aqui e além pequenas intervenções consolidam as plataformas naturais. Pouca coisa mudou.
Nas primeiras marés vivas o mar levou um bocado de muro, corrigindo o que não estava bem. Durante sete anos ainda, como Jacob, o arquitecto estudou os remates, a norte e a sul, onde era difícil a entrega do que se fez ao que existia. De tal sorte, que daí resultou um plano da marginal, e o entregou e disso foi pago.
Mas tudo foi considerado inútil: provavelmente se compreenderá que o arquitecto apenas escolheu onde pôr os pés e aonde não ir, temeroso dos perigos e das rochas do mar. E alguém disse: “qualquer um sabe onde pôr os pés, e é suposto que um arquitecto ponha os pés em sítios diferentes dos de toda a gente”.