"Em 62, [Alfredo Matos Ferreira] projecta um conjunto de instalações agrícolas e habitação de férias para Barca d'Alva. Sem recorrer a uma imagem demasiado evidente, o que levantaria problemas de ‘concorrência’ impossível com a grandiosidade da paisagem onde a obra se insere, esta não se anula, transformando-se em elemento activo que passa a ‘pertencer’ a essa mesma paisagem. Dominando os processos da construção tradicional local, o que o leva a empregar xisto nos elementos resistentes, e conhecendo perfeitamente as técnicas de produção agrícola, aquelas instalações serão resolvidas com vista ao seu perfeito funcionamento, o que não impede que seja conferida uma grande expressividade ao valor plástico dos seus volumes. A casa de férias é organizada em pequenos núcleos que se articulam organicamente em torno de um espaço central correspondente à zona de vida diurna.
Da entrada, amplo pátio a céu aberto definido por muros de razoável altura, passa-se a um átrio de distribuição e daqui para a zona de refeições que, com reduzido pé-direito e situada a uma cota inferior à da sala para a qual se abre, beneficia de um ambiente recolhido e de grande interioridade. Ao espaço da sala é, contrariamente, conferido grande dinamismo. O tecto inclinado limita, já com uma cota muito baixa, a parede sul onde duas estreitas aberturas verticais enquadram a panorâmica sobre o rio Douro e dão acesso a um alpendre ainda mais baixo; em sentido oposto, a cobertura, ganhando altura, permitirá a existência de um espaço que, situado sobre a zona de refeições, se debruça sobre a sala de estar; aquele espaço será iluminado por uma estreita e longa abertura horizontal que transporta para o interior a linha de recorte da montanha. Reconhece-se nesta obra, pela sua formalização e, mais ainda, pela importância que a consideração do sítio nela adquire, uma correcta interpretação dos princípios presentes na obra de Aalto."
Sergio Fernandez in Percurso Arquitectura Portuguesa 1930/1974