Direcção de Fotografia: Acácio de Almeida e Augusto Cabrita
Montagem: Paulo Rocha, Noémia Delgado
Música: Fernando Lopes-Graça
Produção: António da Cunha Telles
Supervisão: Manoel de Oliveira
Se há um filme que sintetiza e simboliza o olhar sobre a paisagem rural do novo cinema português é Sever do Vouga, Uma Experiência. Supervisionado por Manoel de Oliveira, realizado por Paulo Rocha, narrado por Alexandre O’Neil, musicado por Fernando Lopes Graça e produzido por António da Cunha Telles, o filme contraria a ideia feita de que a partir de 7 Balas para Selma houve uma cisão definitiva entre o produtor e os realizadores da primeira leva de filmes do novo cinema. Se existiu uma desavença, em 1971 ela tinha desaparecido, reunindo uma equipa de luxo que produziu um objecto cinematográfico raro e que de alguma maneira sintetiza algumas das questões que podem debater em torno do novo cinema: a oposição entre métodos agrícolas arcaicos e modernos é o mote de toda a narrativa; há um aparente choque entre vivências urbanas e rurais; sendo inequivocamente um documentário sobre o real, percebe-se uma segunda narrativa que dramatiza o confronto entre duas visões do mundo; o filme balança entre o retrato de uma sociedade há muito estagnada e o apelo a uma mudança transformadora.
O desejo de mudança que atravessa todo o filme é personalizado na figura de um engenheiro agrónomo que paulatinamente vai introduzindo recentes métodos de exploração e transformação agrícolas, recebidos com algumas reticências pela população, mas que a pouco e pouco, e com o aparecimento dos primeiros resultados, consegue granjear a confiança da população. Esse momento é encenado num plano em que o engenheiro, sentado sozinho numa mesa do café da terra, é convidado para a mesa de um grupo de agricultores, que Paulo Rocha filma num travelling lento que percorre o espaço. Depois de identificados os problemas – o arcaísmo, o envelhecimento da população, a pouca produtividade – a confirmação de que as novas técnicas agrícolas podem trazer uma significativa melhoria é retratada num momento de verdadeiro suspense, com a música de Lopes Graça em crescendo sobre um plano de um campo de milho, sem sabermos ainda qual o veredicto. Esse momento marca uma viragem no filme para um clima claramente optimista, em que é inevitável identificar uma leitura política. A vontade de tomar o destino nas próprias mãos, o apelo ao cooperativismo, um profundo desejo de renovação, materializado nas novas técnicas industrializadas e principalmente num novo edifício de exploração agropecuária – “o milho em vez do pão dá agora leite e carne” –, espécie de metáfora arquitectónica do progresso que todos constroem em comunidade, permitem ver em Sever do Vouga, Uma Experiência um quase manifesto político.